quinta-feira, 22 de junho de 2023

Meu silêncio




 O meu silêncio é um alvoroço, mudo.

Quando me olham distraídos, passo despercebida. Aqueles que me enxergam, não me compreendem.

A menos que sejam atentos e interessados, não conseguem imaginar a turbulência de pensamentos que me rodeiam, aprisionados em minha mente. Desconhecem a quantidade de sentimentos que rumino, não digiro, palavras não proferidas, apenas sons que se perdem no vazio, sem ecoar ou reverberar.

Sou uma espécie comum em extinção. Sinto, sinto profundamente, mas me calo. Não reajo, não me envolvo, e não discordo daquilo com o qual não concordo. Mas concordo em me calar, me silenciar e me proteger.

Sou como um vulcão adormecido, por onde transitam os desinformados, acreditando na erupção a cada milênio, sem nunca supor que estou sempre borbulhando, nunca adormeço, e nem mesmo eu saberia dizer quando os estrondos e lavas seriam despejados no ar, no mar, na vida. Sou uma incógnita decifrável. Sou esse vulcão de fogo e calor. Sou a erupção adormecida e constante. Sou aquela que se descobre, que se revela, não aquela que é previsível e calma. Calma? Jamais.

Sou intensa, mas ninguém sabe. Não expresso, não me divulgo. Não me espalho como panfletos ao vento. Valorizo meus sentimentos, agora, já não fui assim antes. Eu os dedicava àqueles que acreditava amar. O amor ainda reside em formas e frases despretensiosas dentro de mim, e às vezes, por serem tão despretensiosas, escapam e vagueiam em pousos instáveis e inseguros. Pousos soltos, desordenados.

Alice Ventura.2023


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