segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Uma carta para você.

 


"Na eternidade, acho que não importará onde ou como conhecemos Jesus. O que vai fazer a diferença é o rumo que cada um de nós deu à própria vida depois de conhecê-Lo."

 Uma carta para você

Eu não quero entrar em detalhes sobre o que te trouxe até este lugar. Talvez eu nem devesse me importar. Mas me importo. Não pelos fatos em si, mas pelas consequências.
Quando uma pessoa é reclusa, ela nunca vai sozinha, ainda que a solidão a acompanhe. Ela não imagina, mas junto dela seguem todos aqueles que um dia se importaram — e até mesmo aqueles com quem jamais se importou.

Quando nos tiram o direito à liberdade, nos entregam, em troca, o dever do aprisionamento. Sim, porque estar do lado de fora não significa estar livre. A liberdade é muito mais complexa do que as grades que nos separam. Livre está aquele que deseja ser.
Você pode pensar que muros e cercas o limitam, mas não se entristeça por isso. O que verdadeiramente aprisiona são os pensamentos, os desejos, as expectativas. A liberdade não está do lado de fora: ela é sabor, é cheiro, é som e é emoção — e tudo isso já habita dentro de você. Basta permitir-se sentir. Feche os olhos e sinta.

Aqui, onde não há muros visíveis, a liberdade também nos escapa. Nos aprisionamos em responsabilidades excessivas, no consumismo desenfreado, nas aparências vazias. E, por ser tão corriqueira e rotineira, raramente a valorizamos.
Achamos que viver é apenas acordar, cumprir tarefas, adormecer, e repetir. Mais um dia, mais uma chance desperdiçada de ter feito diferente.

É quando nos falta o simples direito de ir e vir que percebemos o quanto tínhamos tempo, oportunidades e escolhas — e o quanto nos faltou atitude. Atitude para agir, para decidir, para não adiar indefinidamente o que deveria ter sido vivido no agora.

Hoje mesmo, pela manhã, tive uma breve lembrança da fragilidade da vida. Ao subir as escadas do trabalho, meu salto enganchou e, por um milésimo de segundo, senti meu corpo tombar para trás. Consegui me recompor rapidamente, mas pensei: se tivesse caído, talvez fosse um acidente grave. Poderia ter fraturado a coluna, batido a cabeça, ou me machucado seriamente. Bastaria esse instante para transformar completamente meu dia — talvez até minha vida.
E o que diriam depois? Que eu deveria ter usado o elevador. Que não se deve trabalhar de salto. Que eu estava distraída. Comentários inúteis, incapazes de mudar qualquer dor que pudesse sentir. Ninguém pensaria que tudo não passou de um acidente comum, desses que podem acontecer com qualquer pessoa, em qualquer hora.

Essa breve experiência me fez refletir: nem tudo o que nos acontece é fruto de irresponsabilidade ou culpa. A vida, muitas vezes, apenas acontece. Ainda assim, nossas escolhas pesam — e é por isso que precisamos analisar melhor cada passo, aceitar riscos e consequências, e, sobretudo, aprender com eles.
Se eu tivesse caído, provavelmente estaria brava comigo mesma por ter usado o salto, por não ter prestado atenção. Mas, no fundo, não seria apenas azar ou castigo. Seria a vida lembrando que tudo pode mudar num instante.

E talvez seja justamente isso o que desejo te dizer: a liberdade — e a vida em si — não se resume ao espaço físico que ocupamos, mas às escolhas que fazemos diante das possibilidades que temos. Às vezes tropeçamos, às vezes caímos, mas sempre podemos escolher como nos levantamos e para onde seguimos.

Alice Ventura, 2023