domingo, 9 de outubro de 2016

Simplesmente, eu.


Eu …

Eu sou a que se veste de silêncio,
mas carrega em si um tumulto de vozes.
Sou a que sorri com os lábios,
enquanto a alma sossega em silêncio.

Sou feita de excessos contidos:
de amores que nunca se cumpriram,
de palavras que não nasceram,
de promessas que arderam antes de existir.

Carrego no peito uma chama adormecida,
um vulcão em permanente vigília.
Ninguém percebe o fogo que me devora,
ninguém escuta os passos da minha inquietude.

Sou a que passa despercebida,
a estranha familiar de si mesma,
a que se revela em fragmentos,
mas nunca inteira.

Sou aquela que sente demais e fala de menos,
que se perde no próprio labirinto
e se encontra apenas na solidão.

E, talvez, eu seja também o sonho de alguém —
um alguém que me pressente à distância,
mas que nunca ousou me tocar.

Alice Ventura

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