Eu sou a que se veste de silêncio,
mas carrega em si um tumulto de vozes.
Sou a que sorri com os lábios,
enquanto a alma sossega em silêncio.
Sou feita de excessos contidos:
de amores que nunca se cumpriram,
de palavras que não nasceram,
de promessas que arderam antes de existir.
Carrego no peito uma chama adormecida,
um vulcão em permanente vigília.
Ninguém percebe o fogo que me devora,
ninguém escuta os passos da minha inquietude.
Sou a que passa despercebida,
a estranha familiar de si mesma,
a que se revela em fragmentos,
mas nunca inteira.
Sou aquela que sente demais e fala de menos,
que se perde no próprio labirinto
e se encontra apenas na solidão.
E, talvez, eu seja também o sonho de alguém —
um alguém que me pressente à distância,
mas que nunca ousou me tocar.
Alice Ventura
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