quinta-feira, 22 de junho de 2023

Um senhor ensolarado


 Buenos Aires - 2022

E então, enquanto eu me deliciava com a majestade daquela árvore gigantesca, senti uma presença suave ao meu lado. Era o senhor argentino. Ele havia se aproximado com passos lentos e sorriso acolhedor.

 "Essa árvore é realmente magnífica, não é mesmo?" - disse ele, com uma voz que parecia carregar histórias e experiências de vida.

 Fiquei surpresa com a sua abordagem amigável e sua capacidade de enxergar a beleza nas pequenas coisas ao redor. E assim, sem pressa, começamos a conversar sobre as sutilezas do mundo. Ele compartilhava comigo sua sabedoria e perspectivas únicas sobre a vida.

 Enquanto o sol subia no céu, suas palavras me envolviam como um abraço caloroso. Ele me contou sobre as histórias escondidas nas ruas de Buenos Aires, sobre as cores vibrantes que pintavam a cidade, sobre a paixão e o tango que fluíam pelas veias de seu povo.

 À medida que nossa conversa fluía, eu percebia que aquele encontro não era mera coincidência. Era um momento mágico, uma conexão especial que transcendia as barreiras culturais e linguísticas.

 O senhor argentino me ensinou a enxergar além das aparências, a capturar não apenas imagens, mas também emoções e memórias. Ele me mostrou que cada foto que tiramos é um fragmento de uma história que merece ser contada, uma forma de eternizar instantes efêmeros.

 E assim, naquela praça encantadora da Recoleta, entre risos e reflexões, eu descobri que a verdadeira magia da fotografia não está apenas na técnica ou na composição perfeita, mas sim na capacidade de nos conectar com as pessoas e com o mundo ao nosso redor.

 Despedimo-nos com um sentimento de gratidão mútua. Aquele encontro deixou uma marca indelével em minha alma, uma lembrança que carrego com carinho em cada clique da minha câmera.

 Desde então, aprendi a enxergar a beleza nos detalhes cotidianos, a capturar a essência das pessoas e lugares que encontro pelo caminho. E sempre que revejo as fotos daquele dia, lembro-me do senhor argentino e das preciosas lições que ele me ensinou.





O Meu Silêncio é um Alvoroço



Meu silêncio é um alvoroço — um tumulto mudo.
Quando me olham distraídos, passo despercebida. Os que realmente me veem, não me compreendem.
A menos que sejam atentos e verdadeiramente interessados, não conseguem imaginar a turbulência de pensamentos que me cerca, aprisionados na minha mente. Ignoram a quantidade de sentimentos que mastigo sem digerir, palavras que nunca pronuncio, sons que se perdem no vazio, sem eco, sem reverberar.

Sou uma espécie comum em extinção. Sinto profundamente, mas me calo. Não reajo, não me envolvo, não contesto o que não aceito. Concordo apenas em silenciar, em proteger-me no resguardo do não-dito.

Sou como um vulcão adormecido, sobre o qual transitam desavisados, acreditando que uma erupção acontece a cada milênio — sem jamais supor que estou sempre em ebulição. Nunca durmo por completo, e nem eu saberia prever quando os estrondos e as lavas escaparão — no ar, no mar, na vida. Sou incógnita decifrável, vulcão de fogo e calor. Erupção constante, ainda que adormecida. Sou descoberta e revelação, jamais previsibilidade ou calma.
Calma? Nunca.

Sou intensa, mas quase ninguém percebe. Não exponho, não me espalho como panfletos ao vento. Hoje valorizo meus sentimentos, ao contrário de antes, quando os desperdiçava em quem julgava amar. O amor ainda habita em mim, em formas discretas, frases despretensiosas. Às vezes, por serem tão leves, escapam sem rumo e pousam em terrenos instáveis, inseguros. Pousos soltos. Desordenados.

Alice Ventura, 2023