Buenos Aires - 2022
E então, enquanto eu me deliciava com a majestade daquela
árvore gigantesca, senti uma presença suave ao meu lado. Era o senhor
argentino. Ele havia se aproximado com passos lentos e sorriso acolhedor.
E então, enquanto eu me deliciava com a majestade daquela
árvore gigantesca, senti uma presença suave ao meu lado. Era o senhor
argentino. Ele havia se aproximado com passos lentos e sorriso acolhedor.
A menos que sejam verdadeiramente atentos e interessados, não conseguem imaginar a turbulência de pensamentos que me cercam, aprisionados na minha mente. Desconhecem a quantidade de sentimentos que rumino, que não digiro, palavras não proferidas, apenas sons que se perdem no vazio, sem ecoar ou reverberar.
Sou uma espécie comum em extinção. Sinto profundamente, mas me calo. Não reajo, não me envolvo, e não discordo do que não concordo. Contudo, concordo em me calar, em silenciar e em me proteger.
Sou como um vulcão adormecido, por onde transitam os desinformados, acreditando que uma erupção ocorre a cada milênio, sem nunca supor que estou sempre borbulhando. Nunca adormeço, e nem mesmo eu saberia dizer quando os estrondos e lavas serão despejados no ar, no mar, na vida. Sou uma incógnita decifrável, um vulcão de fogo e calor. Sou a erupção adormecida e constante. Sou aquela que se descobre e se revela, não a que é previsível e calma. Calma? Jamais.
Sou intensa, mas ninguém sabe. Não expresso, não me divulgo. Não me espalho como panfletos ao vento. Valorizo meus sentimentos agora, ao contrário de antes. Eu os dedicava àqueles que acreditava amar. O amor ainda reside em formas e frases despretensiosas dentro de mim, e às vezes, por serem tão despretensiosas, escapam e vagueiam em pousos instáveis e inseguros. Pousos soltos, desordenados.
Alice Ventura, 2023