sábado, 11 de outubro de 2025

Para dar sentido ao viver, viva!

Seja bem- vindo à Itapuã 








 

Diário de alma



Itapuã, meu lugar de paz

Morar aqui… é como respirar fundo depois de muito tempo.
Minha casa é pequena, mas cheia de mim. Cada canto guarda um pedaço da minha história — lembranças de viagens, objetos antigos, memórias que resistiram comigo. Não comprei quase nada novo. Estou apenas preenchendo o espaço com o que já existia dentro de mim: calma, gratidão e pertencimento.

Ainda estou me organizando, ajustando as contas, sonhando com a área gourmet lá em cima — por enquanto, só um plano que o bolso não alcança. Mas não há pressa. Quero um lugar simples, bonito, onde eu possa sentir o sol no verão, tomar um banho de chuveiro ao ar livre, acender luzinhas coloridas à noite, sentar sobre almofadas e tomar um vinho devagar. Imagino o riso do meu filho ecoando, o vento brincando nas cortinas. Tudo ainda está em construção, mas a paz já se instalou.

Pela manhã, ouço os passarinhos. À tarde, o pôr do sol pinta o céu de cores que me comovem. Há uma brisa constante que parece me abraçar. E dentro de mim há um silêncio bom, um sossego que esperei a vida inteira pra sentir.

Comprei este imóvel com os meus  próprios recursos, sozinha. Com o que conquistei depois de tantas tempestades. Depois do divórcio, dos recomeços, dos perrengues, das noites longas. Aos 57 anos, sinto que fechei um ciclo. Cheguei onde sempre quis — não num lugar físico, mas num estado de alma.

Tenho o meu carro, a minha casa, uma reserva, um emprego estável, posso pagar a escola do meu filho. Tudo isso me dá serenidade. Aquela menina que veio de Jequié há trinta e cinco anos, cheia de sonhos e medos, batalhou muito até aqui. Demorou, tropeçou, recomeçou, mas chegou.

Hoje, posso dizer que sou vitoriosa. Não sou rica, nem quero ser. O que tenho é suficiente — e é verdadeiro. O mar, o vento, as árvores, o cheiro do sal, o barulho do tempo passando devagar... isso é riqueza.

Itapuã nunca esteve nos meus planos. Foi o acaso, um anúncio na internet, um impulso. E de repente, eu estava assinando o contrato. Como se a vida tivesse me empurrado, gentilmente, para o lugar que sempre foi meu.

Por vezes, pensei que minha casa fosse longe demais para receber visitas. Que os amigos poderiam achar distante, fora de mão. Já me importei com isso, com a ausência, com o medo de parecer isolada. Mas Itapuã me ensinou outra coisa:
nem tudo o que é quieto é solidão.

Hoje, entendo que, assim como eu amo o meu canto, meus amigos também amam os deles. Cada um tem seu refúgio, seu silêncio, sua rotina. E tá tudo bem. Quando o coração deles quiser, quando a vontade bater, eles virão. Sem pressa, sem cobrança — e serão sempre bem-vindos.

Eu, por mim, ficarei aqui pra sempre.
Neste pedacinho de mundo onde a vida desacelera,
onde o tempo tem cheiro de maresia,
e onde, finalmente,
eu aprendi o que é estar em casa.


Por A. Ventura

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Uma carta para você.

 


"Na eternidade, acho que não importará onde ou como conhecemos Jesus. O que vai fazer a diferença é o rumo que cada um de nós deu à própria vida depois de conhecê-Lo."

 Uma carta para você

Eu não quero entrar em detalhes sobre o que te trouxe até este lugar. Talvez eu nem devesse me importar. Mas me importo. Não pelos fatos em si, mas pelas consequências.
Quando uma pessoa é reclusa, ela nunca vai sozinha, ainda que a solidão a acompanhe. Ela não imagina, mas junto dela seguem todos aqueles que um dia se importaram — e até mesmo aqueles com quem jamais se importou.

Quando nos tiram o direito à liberdade, nos entregam, em troca, o dever do aprisionamento. Sim, porque estar do lado de fora não significa estar livre. A liberdade é muito mais complexa do que as grades que nos separam. Livre está aquele que deseja ser.
Você pode pensar que muros e cercas o limitam, mas não se entristeça por isso. O que verdadeiramente aprisiona são os pensamentos, os desejos, as expectativas. A liberdade não está do lado de fora: ela é sabor, é cheiro, é som e é emoção — e tudo isso já habita dentro de você. Basta permitir-se sentir. Feche os olhos e sinta.

Aqui, onde não há muros visíveis, a liberdade também nos escapa. Nos aprisionamos em responsabilidades excessivas, no consumismo desenfreado, nas aparências vazias. E, por ser tão corriqueira e rotineira, raramente a valorizamos.
Achamos que viver é apenas acordar, cumprir tarefas, adormecer, e repetir. Mais um dia, mais uma chance desperdiçada de ter feito diferente.

É quando nos falta o simples direito de ir e vir que percebemos o quanto tínhamos tempo, oportunidades e escolhas — e o quanto nos faltou atitude. Atitude para agir, para decidir, para não adiar indefinidamente o que deveria ter sido vivido no agora.

Hoje mesmo, pela manhã, tive uma breve lembrança da fragilidade da vida. Ao subir as escadas do trabalho, meu salto enganchou e, por um milésimo de segundo, senti meu corpo tombar para trás. Consegui me recompor rapidamente, mas pensei: se tivesse caído, talvez fosse um acidente grave. Poderia ter fraturado a coluna, batido a cabeça, ou me machucado seriamente. Bastaria esse instante para transformar completamente meu dia — talvez até minha vida.
E o que diriam depois? Que eu deveria ter usado o elevador. Que não se deve trabalhar de salto. Que eu estava distraída. Comentários inúteis, incapazes de mudar qualquer dor que pudesse sentir. Ninguém pensaria que tudo não passou de um acidente comum, desses que podem acontecer com qualquer pessoa, em qualquer hora.

Essa breve experiência me fez refletir: nem tudo o que nos acontece é fruto de irresponsabilidade ou culpa. A vida, muitas vezes, apenas acontece. Ainda assim, nossas escolhas pesam — e é por isso que precisamos analisar melhor cada passo, aceitar riscos e consequências, e, sobretudo, aprender com eles.
Se eu tivesse caído, provavelmente estaria brava comigo mesma por ter usado o salto, por não ter prestado atenção. Mas, no fundo, não seria apenas azar ou castigo. Seria a vida lembrando que tudo pode mudar num instante.

E talvez seja justamente isso o que desejo te dizer: a liberdade — e a vida em si — não se resume ao espaço físico que ocupamos, mas às escolhas que fazemos diante das possibilidades que temos. Às vezes tropeçamos, às vezes caímos, mas sempre podemos escolher como nos levantamos e para onde seguimos.

Alice Ventura, 2023

sábado, 10 de agosto de 2024

A Magia de uma Noite Só Sua



Hoje, enquanto o sol se põe e o sábado ganha suas cores de fim de semana, estou aqui, sozinha em casa, mas de uma forma que nunca esteve tão cheia. Pedi um risoto maravilhoso, abri um espumante que aguarda para brindar à minha própria companhia e me deixei envolver por uma série que se desenrola nas encantadoras ruas de Paris, adorável! A noite é só minha, e eu estou adorando cada momento.

Há quem diga que a solidão é um fardo, mas eu vejo de outra forma. A solidão, quando bem acompanhada, pode ser um presente. E minha companhia é esplêndida! Eu, uma mulher de 56 anos, divorciada e sem namorado no momento, descobri que há uma beleza especial em aproveitar a própria companhia. Hoje, apesar do convite, decidi que sair com amigas não era o que eu queria. Geralmente adoro essas saídas, mas hoje, minha vontade era de mergulhar em um espaço só meu.

E por que não? Às vezes, precisamos nos dar a permissão para desacelerar e nos mimar. Para mim, esta noite é uma celebração da minha autonomia e do prazer simples de estar bem sozinha. É uma lembrança de que o auto cuidado não é só uma tendência, mas uma necessidade fundamental. Fim de semana de dia dos pais, o filho fora de casa e a casa, tv, controle .. tudo só para mim! 

Para todas as mulheres que podem se sentir pressionadas a estar sempre em movimento ou a buscar companhia externa para se sentir completas: permitam-se momentos assim. Encontrem o seu espaço especial e celebrem o que é estar bem consigo mesmas. Se um risoto, um espumante e uma boa série podem fazer a diferença em um sábado à noite, imaginem o quanto podem fazer pelo seu bem-estar emocional e mental.

E homens, se vocês estão lendo isso e também preferem passar uma noite tranquila em casa, saibam que não estão sozinhos. A beleza da vida está em desacelerar, encontrar prazer nas pequenas coisas e em abraçar o momento presente.

Seja qual for a sua situação ou desejo, permita-se a oportunidade de desfrutar do seu próprio espaço. Às vezes, a companhia mais enriquecedora é a que encontramos dentro de nós mesmos.

Aqui estou eu, brindando a uma noite de simples prazer e a um espaço só meu. E você, como vai celebrar a sua próxima noite especial?


 10.08.24

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Um senhor ensolarado


 Buenos Aires - 2022

E então, enquanto eu me deliciava com a majestade daquela árvore gigantesca, senti uma presença suave ao meu lado. Era o senhor argentino. Ele havia se aproximado com passos lentos e sorriso acolhedor.

 "Essa árvore é realmente magnífica, não é mesmo?" - disse ele, com uma voz que parecia carregar histórias e experiências de vida.

 Fiquei surpresa com a sua abordagem amigável e sua capacidade de enxergar a beleza nas pequenas coisas ao redor. E assim, sem pressa, começamos a conversar sobre as sutilezas do mundo. Ele compartilhava comigo sua sabedoria e perspectivas únicas sobre a vida.

 Enquanto o sol subia no céu, suas palavras me envolviam como um abraço caloroso. Ele me contou sobre as histórias escondidas nas ruas de Buenos Aires, sobre as cores vibrantes que pintavam a cidade, sobre a paixão e o tango que fluíam pelas veias de seu povo.

 À medida que nossa conversa fluía, eu percebia que aquele encontro não era mera coincidência. Era um momento mágico, uma conexão especial que transcendia as barreiras culturais e linguísticas.

 O senhor argentino me ensinou a enxergar além das aparências, a capturar não apenas imagens, mas também emoções e memórias. Ele me mostrou que cada foto que tiramos é um fragmento de uma história que merece ser contada, uma forma de eternizar instantes efêmeros.

 E assim, naquela praça encantadora da Recoleta, entre risos e reflexões, eu descobri que a verdadeira magia da fotografia não está apenas na técnica ou na composição perfeita, mas sim na capacidade de nos conectar com as pessoas e com o mundo ao nosso redor.

 Despedimo-nos com um sentimento de gratidão mútua. Aquele encontro deixou uma marca indelével em minha alma, uma lembrança que carrego com carinho em cada clique da minha câmera.

 Desde então, aprendi a enxergar a beleza nos detalhes cotidianos, a capturar a essência das pessoas e lugares que encontro pelo caminho. E sempre que revejo as fotos daquele dia, lembro-me do senhor argentino e das preciosas lições que ele me ensinou.





O Meu Silêncio é um Alvoroço



Meu silêncio é um alvoroço — um tumulto mudo.
Quando me olham distraídos, passo despercebida. Os que realmente me veem, não me compreendem.
A menos que sejam atentos e verdadeiramente interessados, não conseguem imaginar a turbulência de pensamentos que me cerca, aprisionados na minha mente. Ignoram a quantidade de sentimentos que mastigo sem digerir, palavras que nunca pronuncio, sons que se perdem no vazio, sem eco, sem reverberar.

Sou uma espécie comum em extinção. Sinto profundamente, mas me calo. Não reajo, não me envolvo, não contesto o que não aceito. Concordo apenas em silenciar, em proteger-me no resguardo do não-dito.

Sou como um vulcão adormecido, sobre o qual transitam desavisados, acreditando que uma erupção acontece a cada milênio — sem jamais supor que estou sempre em ebulição. Nunca durmo por completo, e nem eu saberia prever quando os estrondos e as lavas escaparão — no ar, no mar, na vida. Sou incógnita decifrável, vulcão de fogo e calor. Erupção constante, ainda que adormecida. Sou descoberta e revelação, jamais previsibilidade ou calma.
Calma? Nunca.

Sou intensa, mas quase ninguém percebe. Não exponho, não me espalho como panfletos ao vento. Hoje valorizo meus sentimentos, ao contrário de antes, quando os desperdiçava em quem julgava amar. O amor ainda habita em mim, em formas discretas, frases despretensiosas. Às vezes, por serem tão leves, escapam sem rumo e pousam em terrenos instáveis, inseguros. Pousos soltos. Desordenados.

Alice Ventura, 2023

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Destino BUENOS AIRES

 




Buenos Aires, setembro de 2022

Nada foi planejado, mas tudo aconteceu.
Um convite inesperado — celebrar os 65 anos de uma amiga querida — me levou a uma cidade que nem estava nos meus planos. Aceitei. E, ao aceitar, abri espaço para o imprevisto, para a vida que surpreende quando menos esperamos.

Fui com a mala cheia de necessidades, mas voltei com o coração cheio de memórias.
Ruas que nos acolheram, cafés que se tornaram cenário de risadas, caminhos que nos levaram até o Uruguai sem que estivesse escrito. O roteiro? Ficou de lado. Porque a melhor viagem é aquela que nos permite simplesmente viver.

Na volta, trouxe mais do que lembranças. Trouxe o valor das amizades que caminham ao nosso lado, das conversas que aquecem, das diferenças que respeitamos e das risadas que guardamos como tesouro.

Buenos Aires foi pano de fundo. A essência esteve em nós: Lucinha, Norminha, Rita e Nete.
Com vocês, qualquer lugar se torna inesquecível.




















sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Sobre o amor...




 É sobre o amor. 

O amor que brota dentro do peito como o florescer de uma flor, cada dia mais forte, mais significante, mais emblemático, mais tangível. È um amor maternal sim, eu sinto.

Não tem a ver com um tipo de amor diferente. Um amor de vó. É amor. na mais pura essência da palavra. Um amor por um serzinho tão pequenino, tão frágil, tão indefeso e que necessita tanto de nós para tudo.

Amar é ver esse ser se desenvolvendo, é acompanhar cada pequena evolução, cada pequeno gesto diferenciado de ontem, de um mês atrás . Amar e poder estar junto, isso não tem preço. Amar e poder tomar um delicioso banho de chuveiro cheio de graças e de gargalhadas. Perceber o quanto se ama cada pequena dobrinha. Cada olhar que se cruza e que um lindo sorriso banguelinho se abre. é sentir que já somos reconhecidos. Seja pelo som da voz, pelo cheiro, pelo tocar. Quando nossos olhos se cruzam sinto todo o amor que emana dele para mim. Eu sou aquela que vai chegar, que vai fazer barulho, que vai fazer graça para extrair o sorriso babado... que vai fazer aviãozinho com ele nas pernas, que vai sacudir e sacudir até cansar.... Vovó é aquela que admira minhas pequenas conquistas. Assim quero ser lembrada por ele, por esse meu descendente de amor. Gerado pelo meu fruto, concebido com amor e recebido com uma enxurrada de felicidade.
Que bom que o momento que você chegou foi de calmaria para sua vó, que ela pode curtir a noticia e a chegada, que pode estar presente lá nas terras lusitanas onde sua mãe escolheu para você nascer. Que bom meu pequeno que pude estar por perto, perto da ansiedade de sua mãe, perto do ciumento do seu tio e perto do seu pai, pessoa totalmente nova ao nosso aconchego, mas que se mostrou presente e próximo como bem deveria ser. 
Que bom que sua chegada não gerou uma enorme preocupação .... que bom que sua mãe escolheu ser sua mãe. 
Aos poucos meu anjo vai percebendo que em torno de você só o amor prevalece. A alegria da bisa em te conhecer e em reconhecer um pouco de tua mãe em seu comportamento. Isso acalanta o peito dela da saudade da infância de sua mãe que foi ao lado dela por um bom tempo. Sei exatamente como ela se sente, meio vó, meio bisa e meio mãe. Assim, somos todas nós.

O amor faz isso com a gente Breno... nos faz rir, faz chorar e nos faz sentir. e hoje eu sinto que sou uma mulher abençoada e que por mais que a minha vida tenha sido com alguns percalços, a felicidade sempre bate à minha porta e a mais recente foi a sua chegada.

Sinto que através do amor que sinto por você, sua mãe passe a compreender o tamanho do amor que minha mãe sentiu por ela quando ela nasceu, a primeira netinha e que aos poucos ela sinta que foi recebida assim como vc cheia de amor e cuidados...e que sempre foi foi meu bebê lindo.

Ser mãe é uma dádiva inenarrável. Ser vó, idem.
Com amor de sempre, para sempre e incondicionalmente.

Vó Márcia
AGOSTO 22

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O Desejo em Espera: Uma Crônica Portuense











O Roteiro Mental

A cidade do Porto. Minha chegada era motivada por laços de sangue — o abraço da filha, o cheiro inédito do neto. Mas havia, na mala da alma, um enredo à parte, costurado ao longo de quase um ano de conversas transatlânticas. Ele, o homem do outro lado da linha, desenhava-se na imaginação com traços firmes: charme, estilo singular, a arte de comandar uma cozinha. Eu, de signo d’água e redescobrindo o romantismo na maturidade, criei um roteiro mental de possibilidades. Sonhos são de graça, e eu os gastei com fartura.

O convite veio, apressado e franco: "Quero muito te ver, menina, mas o trabalho me atropela. Pode vir ao restaurante? Já estamos a fechar, e aí poderei te dar atenção."

Claro que sim. A espera de um ano cabia toda naquela noite, que deveria ser especial, única, digna do prelúdio virtual.

Escolhi o melhor vestido. O batom vermelho, pauta de conversas anteriores, era a assinatura da expectativa. No Uber, o delírio se instalou: imaginei a mesa para dois à luz de velas, com vinho ou champanhe. Sabores, cheiros, o toque inicial que confirmaria a química do tempo.

O Abismo da Calçada

O restaurante ficava no primeiro andar. Avisei que cheguei e esperei. Paciente, justificando a demora com a crença de que ele estaria ultimando os preparativos para o encontro perfeito.

Quando ele desceu, era a imagem fiel da minha fantasia: o avental de chef, a faixa estilosa, o sorriso familiar. Meu coração fez a pergunta que a insegurança exigia: será que o encanto era recíproco? O abraço foi apertado. Um breve aviso, porém, quebrou a primeira cena do meu filme: "Vou só fechar. Já, já descemos para sair daqui."

Pois bem, o restaurante não seria o palco. A primeira parte do roteiro estava rasgada.

Saímos a pé pelas ruas históricas do Porto. Eu, em êxtase, absorvendo o cenário e a presença dele. Ele, na dele: sorridente, feliz por me ver, mas sem o menor ímpeto de me tocar, de segurar a mão, de cruzar o limite invisível do "nós".

Fomos a um bar charmoso. Vinho na taça, e o assunto, vasto, cobriu tudo, exceto o que de fato nos unia: a troca virtual de quase um ano. Não houve uma única menção à intensidade dos nossos telefonemas e roca de mensagens. A conversa pairava sobre filhos, família, a cidade, a vida... Tudo muito agradável, tudo muito seguro, tudo muito aquém.

A sugestão de ir para a "Baixa", a zona mais movimentada, reacendeu a chama da expectativa. O *flâneur que me guiava pelas vielas parou subitamente. Um olhar para o relógio. "Puxa, está muito tarde. Amanhã acordo cedo. Preciso ir."

A Derrota do Batom

Fiquei... bege. A noite, sem toque, sem beijo, sem assunto íntimo, me deixou boba e eufórica, mesmo assim fui embora com aquele sorriso que insiste em ficar no rosto até doer. Trocamos mensagens protocolares de "boa noite" e "foi muito bom te encontrar".

Nos dias seguintes, o ritmo do silêncio se impôs. Minhas mensagens, mais efusivas; as respostas dele, espaçadas, justificadas pela correria da cozinha e a distância do telefone. Minha autoestima, antes embalada pelo sonho, despencou. A certeza fria: ele não gostou. As perguntas que nos assombram: Falei demais? Fui inconveniente? Faltou atração física?

Até que, na véspera de um evento importante para ele — uma travessia no Rio Douro —, veio um convite para jantar. Um convite de última hora. E eu, sem um pingo de amor-próprio naquele momento, aceitei o inexplicável.

Encontramo-nos no Jardim do Morro. A noite me encontrou cheirosa, vestida para a confirmação. Ele chegou, radiante, e a primeira coisa que disse foi uma provocação: "Agora não estou a cheirar a cozinha".  Eu, aproveitei a "deixa."

Aproximei-me, respirei fundo perto do seu pescoço, senti seu cheiro bom, me emocionei e devolvi o elogio com um beijo naquela pele. E foi só isso. Jantamos, conversamos, bebemos. Ele me deu carona e me deixou em casa. Sem toque, sem aprofundamento, sem o "nós".

Senti o ímpeto de agarrá-lo, de beijá-lo, de forçar a timidez que eu queria acreditar que ele tinha. Mas o medo de estar ali por mera educação me paralisou.

Naquela noite, o sono não veio. Fiquei consumida pela raiva de mim: Por que não perguntei? Por que não falei o que sentia? As perguntas ficaram girando, sem respostas, na madrugada portuguesa.

E assim, sem sequer existir fora da minha cabeça, o romance acabou. Ele não foi derrotado por um rival, mas sim pelo abismo entre a realidade dele e o roteiro que eu havia escrito.

Ainda assim, a crônica de uma espera, de um batom vermelho usado em vão, vale a pena ser contada. Afinal, a vida é a arte de reescrever o final das histórias que a gente idealiza.


Alice Ventura

2023



*O flâneur é palavra de origem francesa: Observador Atento: É alguém que vagueia pelas ruas sem pressa e sem um destino específico, não para ir a algum lugar, mas para ver e ser visto, absorvendo a vida da cidade.

 

Pedaços de mim...







A Perpetuação do Amor: Meus Filhos, Meu Neto

Pedacinhos de nós mesmos em outros corpos: é assim que vamos frutificando o mundo e marcando nossa passagem por aqui. Não, não me basta ser mãe e ter colocado apenas uma sementinha no mundo. Essa semente cresceu, floriu e se multiplicou, concedendo-me mais um pedacinho de mim espalhado pela vida.

Agora sinto que estou perpetuada, pelo menos por mais um século. Tenho meus filhos — minha menina e meu menino — e deles muitos outros frutos hão de surgir. Serei lembrada não só por ser mãe, mas também por ser avó de alguém, quem sabe bisavó, tataravó... E é assim que vou deixando minha marca neste mundo.

Serei lembrada, gerando recordações e citações. É como aquela máxima de vida que diz: "Tenha um filho, plante uma árvore e escreva um livro" para jamais ser esquecido ou ter vivido em vão. Só agora entendi o sentido real disso.

Este aqui é o pequeno Breno, sim, meu primeiro neto.

Apresento-o neste mesmo Blog que comecei antes de completar 40 anos e onde, agora, aos 53, tantas coisas já me ocorreram. Aos 38, eu só tinha uma filha de 18 e jamais imaginei ter outro filho. Mas tive, aos 40! E agora, 13 anos depois, ganhei um neto!

Só tenho o que agradecer. É a felicidade em dose tripla!

Hoje não estou com muita inspiração, na verdade, estou cansada. Mas aproveitei este momento para deixar neste meu Blog, que andava tão esquecidinho, um registro importante da minha existência.


Breno Santos

13/12/2021 (segunda-feira) 13h

Nasceu em Porto, Portugal para nossa felicidade.



segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Ser brega...

Ser brega é  ter a confiança em si mesmo.
Ser brega não é apenas vestir um traje colorido
É preciso ter atitude
Ser brega é ser simples
Desencanado em sua plenitude

Ser brega é ser  o que bem se quer ser
despretensiosamente feliz
Livre e de verdade
Não importando a idade

Ser brega é não se preocupar com a opinião alheia
É ser o que se pretende
É colocar as cores em prol da alegria
É saber fazer sorrir de noite e de dia

É se vestir para o mundo
É ser luz
Luz que contagia
É se chamar Dante
E ser feliz a todo instante!

Parabéns meu pequeno príncipe
Mais uma vez voce mostrou que é o que é
Mamãe muito orgulhosa de você!

domingo, 9 de outubro de 2016

Simplesmente, eu.


Eu …

Eu sou a que se veste de silêncio,
mas carrega em si um tumulto de vozes.
Sou a que sorri com os lábios,
enquanto a alma sossega em silêncio.

Sou feita de excessos contidos:
de amores que nunca se cumpriram,
de palavras que não nasceram,
de promessas que arderam antes de existir.

Carrego no peito uma chama adormecida,
um vulcão em permanente vigília.
Ninguém percebe o fogo que me devora,
ninguém escuta os passos da minha inquietude.

Sou a que passa despercebida,
a estranha familiar de si mesma,
a que se revela em fragmentos,
mas nunca inteira.

Sou aquela que sente demais e fala de menos,
que se perde no próprio labirinto
e se encontra apenas na solidão.

E, talvez, eu seja também o sonho de alguém —
um alguém que me pressente à distância,
mas que nunca ousou me tocar.

Alice Ventura

Destinos



Ela não sabia qual caminho seguir.
Parou a observar o horizonte a nada, nenhum sinal. Não sabia por que sempre lhe diziam que uma luz, um sinal alguma coisa iria acontecer para que se trilhasse um destino. Assim, as pessoas passam anos olhando para o nada sem nada saber e nem sequer ter para onde seguir.
Nos sinais que a vida te oferece, sempre estão os percalços das suas decisões, sempre hão de existir pedras no caminho, sempre encontrará dúvidas. Porque isso é vida. Ter dúvidas, posto que ninguém nasce com manual de acertos e erros, e todos os acertos, em sua maioria são provenientes de muitos erros.
Foi assim, errando e tentando que parei de procurar sinais e passei a trilhar caminhos. Algumas situações da minha vida se eu insistir em buscar pela memória, nem mesmo assim vou ser capaz de saber dizer o porquê de ter tomado àquela decisão em minha vida. Não tenho referências dos pensamentos que me norteavam, das emoções que vivi, decisões que seguir. Sei que tive que decidir, decidi.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Celebrando a vida






Todas as manhãs quando dobramos a esquina da nossa rua com meu carro, eu e Dante contemplamos a natureza e agradecemos a Deus por tudo. Se o sol está radiante, agradecemos. Se está chovendo, agradecemos. E assim, vou educando meu filho e ensinando a ele que sempre existe o lado bom das coisas. E ele sabiamente compreende que devemos agradecer por todas as maravilhas que Deus nos proporciona ao acordarmos, ao abrirmos os olhos pela manhã.

Explico que algumas vezes o que é bom para um não é tão bom para outro, e assim é a vida, cabe sempre àquele que se sente triste ou prejudicado aceitar que tudo tem uma razão para acontecer e aguardar com fé que sua hora chegará... As flores não florescem se não chover, logo o sol não pode prevalecer todos os dias.. É preciso chuva para florir.

A vida é uma dádiva. Manter-se vivo, atualmente, uma luta além de muita precaução. A violência que nos assusta, as doenças que nos surpreendem, as tragédias que insistem em nos surpreenderem..melhor nem evidenciá-las... Enfim, viver está se tornando cada vez mais uma aventura. Por isso precisamos estar em paz. A fé nos ajuda a mantermos a harmonia com Deus e nos ajuda a superar os reveses da vida e seguir em frente! Em continuar!

Hoje não escrevo por nada e por ninguém. Mas para minha reflexão sobre estar viva!
Onde quero chegar? O que espero da vida?
Descubro a cada dia que o que me move é manter-me lúcida, saudável e feliz para que na minha jornada possa construir laços saudáveis de amizade e amor. Espero que possa manter-me integra e honesta para que meus filhos se orgulhem da mãe que têm. Que meus valores morais se mantenham invictos, para que minha mãe  sempre reconheça que os seus ensinamentos não foram em vão. Desejo ser a profissional que possa ser, com meus defeitos e acertos e que seja respeitada pela minha conduta ética e moral. Aos meus amigos gostaria que sentissem que terão em mim sempre uma amiga disponível e verdadeira. Enfim, é isso que desejo levar comigo e deixar para os meus. Aqueles que me desejam mal por qualquer razão que seja, sempre peço a Deus que os tornem pessoas mais felizes e abastadas para que seus pensamentos tomem outro rumo e que só energia boa me alcance.

Não desejo nada além do que possa alcançar com meu trabalho e dedicação.

A vida é efêmera e delicada... Vou cuidar de todos os anos que tenho a viver com muito mais sabedoria. Vou usar meus dias com pensamentos e ações positivas.

Minha vida será proporcionalmente vivida ao tempo que dedico ao trabalho, planejarei meu lazer. Ao dinheiro que gastarei com medicamentos, utilizarei proporcionalmente com passeios e programas legais com meus filhos. O tempo será ainda mais precioso. Pois ele é raro e é tudo que temos, por hoje, por hora, por agora.
Vida que se vive.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sol de inverno



Quando o sol não aparece posso sentir estes dias como dias de um leve mau humor, e nem sei de onde vem esse estado, me sinto recebendo críticas mais do que o normal, e não consigo perceber se isso tende a ser mais uma impressão do que uma realidade. Preciso refletir! Nem sempre quando as pessoas nos mostram outra forma de ver as coisas significa que elas não gostam da gente. Na verdade, sou eu quem estou me criticando o tempo todo. Então pensei: até que ponto eu não estou agindo com muita dureza em relação aos meus próprios defeitos? Não quero ser condescendente .... Mas sinto que preciso pegar mais leve comigo mesma. E não apenas comigo, mas com os outros também, pois é bastante provável que eu esteja agindo de forma excessivamente crítica, e não os outros.
Uma boa forma de passar por esse inverno sem me transformar, não existe. Pois o mau tempo e o céu cinzento é propicio à reflexão, pena que muitas vezes negativa. Por ter tomado consciência dessa estação, desse estado de espírito e de minhas oscilações de humor vou fazer brotar um sol dentro de mim. Vou aquecer meu coração e meus pensamentos. Um sol irradia calor, energia e luz, muita luz! Exatamente o que preciso agora! Sou iluminada e nem um céu cinzento vai deixar nebuloso meu olhar e meu ser! ( A.Ventura)